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Um bate-papo alto astral com Mateo Piracés-Ugarte sobre o novo álbum do Francisco,El Hombre

(Ouça a íntegra do programa aqui)

 

 

A banda Francisco,El Hombre lançou recentemente seu novo álbum. Intitulado Rasgacabeza, o disco traz a intensidade que a banda tem nos palcos para suas gravações e o resultado foi um trabalho com uma pegada mais freak e punk-rock, sem deixar de lado as baladas – sempre bem construídas da banda – e a diversidade sonoro e poética características do grupo.

 

Francisco, El Hombre

De passagem por Belo Horizonte com a turnê de Rasgacabeza, nós aproveitamos para bater um papo com Mateo Piracés-Ugarte e saber um pouco mais sobre o novo projeto do Francisco,El Hombre.

O grupo faz única apresentação nesta sexta, dia 24 de maio, no Distrital em Belo Horizonte. Os ingressos estão à venda no site www.sympla.com.br. O Distrital fica na R. Opala, s/n bairro Cruzeiro. Mais informações você encontra no site da sympla e na página facebook.com/ODistrital.

Até a próxima!

 

 

Dzi Croquettes – “As Internacionais”

(Ouça a íntegra do programa aqui)

 

 

A arte, assim como tudo no mundo, é algo que não conseguimos definir em uma só palavra, um só gesto, uma só nota ou uma só cor. Uma palavra pode ter um efeito arrasador ou delicado, nossos movimentos podem ser duros ou flexíveis, a música pode ser densa ou suave e a cor pode se tornar várias com a influência da luz. Nós também somos assim, meio macho – meio fêmea, meio anjo – meio demônio, meio sentimental – meio racional. Resumindo : nada é uno por si só e a dualidade é uma lei que permeia toda ciência, arte e filosofia.

 

Tudo tem seus dois lado...(tela de Jorge Jucá)
Tudo tem seus dois lado…(tela de Jorge Jucá)

 

Você deve estar se perguntando porque começar um texto com os dois lados de tudo. Bom, para falar de Dzi Croquettes não precisa de uma data ou evento especial, afinal só o fato de mudar o “fazer artístico” no Brasil já é um motivo para lembrar destes rapazes a qualquer hora. Já a dualidade foi o carro-chefe, a marca registrada destes 13 artistas multifacetados.

 

Dzi Croquettes
Dzi Croquettes

 

Na época em que nasceu o Dzi Croquettes, o Brasil estava em meio a um dos momentos mais rigorosos da ditadura militar. A mão da censura pairava sobre toda e qualquer manifestação artística, afinal a arte – além dos embates violentos entre povo e militares nas ruas do país –  era uma forma de enfrentar aquele regime que foi um dos maiores vilões do país que queria de volta a sua liberdade de ser e pensar. O dançarino e coreógrafo nova-iorquino Lennie Dale já estava sacudindo os alicerces do espetáculo brasileiro com sua dança, seu estilo de cantar, suas parcerias e apresentações com diversos artistas nacionais. Elis Regina, por exemplo, deve toda sua movimentação de palco (e braços) às “dicas” de Lennie. Daí para criar um grupo que levasse para o palco a ginga brasileira com a disciplina dos ensaios da Broadway (local de onde veio Dale) foi um pulo.

 

Elis, uma das fãs-aprendizes de Lennie
Elis, uma das fãs-aprendizes de Lennie

 

O Dzi Croquettes era formado por 13 homens fortes, peludos e másculos que se vestiam como damas de cabaré,  usavam maquiagens pra lá de criativas,  tinham a leveza de uma bailarina russa e o swing do povo brasileiro. O Dzi levava para os palcos coreografias arrasadoras, com uma estética visual difícil de se encontrar até hoje. Salvo os shows geniais de Ney Matogrosso, um dos fãs de carteirinha dos Croquettes e altamente influenciado pelo o estilo do grupo , tanto na época dos Secos e Molhados quanto em sua carreira solo.

 

Secos e Molhados, qualquer semelhança com o Dzi não é mera coincidência
Secos e Molhados, qualquer semelhança com o Dzi não é mera coincidência

 

As músicas também eram um caso à parte nos shows. Não importava a língua ou estilo. Em inglês, português ou francês, se samba, bolero ou soul, o grupo sempre mostrava a mesma técnica e preparo físico para todos os atos dos espetáculos. Originalidade, ousadia, liberdade criativa e inventividade são só algumas palavras para descrever o trabalho do Dzi Croquettes. Essa família, como gostavam de ser chamados, elevou o fazer artístico brasileiro a um alto patamar de profissionalismo.

 

Não existia esse ou aquele estilo para o Dzi, existia a Arte.
Não existia esse ou aquele estilo para o Dzi, existia a Arte.

 

Do Brasil para Paris foi outro pulo, desta vez apadrinhado por Liza Minnelli, que depois de assistir um show do grupo no Brasil, se apaixonou completamente por aqueles 13 homens “talentosérrimos”. Como ela  disse no documentário realizado por Tatiana Issa e Raphael Alvarez ( Dzi Croquettes – 2009) : “I can’t describe in one Word”.   A temporada na Cidade Luz foi um sucesso, com direito a novos fãs como Mick Jagger, Josefine Backer e Jeane Moreau só pra citar alguns.

 

Liza Minnelli, o passaporte para a temporada internacional do Dzi Croquettes
Liza Minnelli, o passaporte para a temporada internacional do Dzi Croquettes

 

A volta ao Brasil foi na verdade uma reviravolta e a AIDS, algumas diferenças e o destino encerraram a jornada de um dos mais impactantes grupos brasileiros. Mas ficou a memória de um dos momentos mais vigorosos e criativos da cultura brasileira. Uma fonte inesgotável para todo o artista que busca transcender os limites da arte, da técnica, da irreverência e dos conceitos pré-estabelecidos. Como eles diziam : “Não somos homens, não somos mulheres. Somos gente como vocês.”  Ou seja, eles levavam para a arte, para o palco e para a vida os dois lados de tudo.Se você quiser conhecer a fundo o Dzy Croquettes é só assistir o documentário, que está disponível no Youtube. Aliás vale à pena e muito conferir essa homenagem emocionante de Tatiana Issa ( filha do coreógrafo Américo Issa ) e Raphael Alvarez.

 

Dzi Croquettes - O documententátio
Dzi Croquettes – O documententário

 

Aqui no Link Sonoro você confere um trecho do espetáculo em que o Dzi dá a sua cara para o soul de James Brown.

Até a próxima! 😀

 

 

 

 

 

 

 

You’re The Man, um dos álbuns mais engajados de Marvin Gaye finalmente é lançado

(Ouça a íntegra do programa aqui)

 

 

O ano era 1972 e Marvin Gaye estava no ápice de sua carreira. Seu álbum What’s Going On, lançado no ano anterior, refletia uma tendência que estava crescendo na produção da soul music, ou seja, canções que abordavam temas não muito queridos da ala conservadora dos EUA como o racismo, a Guerra do Vietnã, a pobreza e a  hipocrisia que envolvia todo o cenário político do então presidente Richard Nixon, que anos depois se viu obrigado a renunciar ao cargo em função do famoso caso Watergate.

 

Marvin Gaye todo feliz no auge da sua criatividade

 

Com a criatividade a mil Marvin Gaye se sentia motivado a colocar todas as suas ideias em canções, fosse em trilhas sonoras para os filmes da geração Blaxploitation, movimento cinematográfico da década de 1970 que trazia produções protagonizadas e realizadas por atores e diretores negros, ou em álbuns com teor engajado e ativista. Foi aí que em 1972 o cantor gravou You’re The Man, disco que trazia o canto e a interpretação únicos de Marvin e letras que seguiam a risca suas motivações daquele momento. E é aí que estava o problema, as ideias de Gaye não iam de encontro as do todo poderoso Berry Gordy fundador da Motown Records, gravadora que faturou, e muito, com os trabalhos de Marvin Gaye e de outros artistas negros daquela geração como The Supremes, The Jackson Five, The Temptation e tantos outros que levaram a produção da soul music a outro patamar.

 

You’re The Man

 

Já na capa de You’re The Man, Marvin Gaye nos encara com seu olhar penetrante e questionador, como se quisesse respostas para aquele momento tão conturbado nos EUA e no mundo. O single You’re The Man foi lançado com certo receio pela direção da Motown, e aqui leia-se o já citado Berry Gordy que tinha posicionamento político mais próximo do então candidato a reeleição Richard Nixon. O single não alcançou o sucesso de What’s Going On e talvez por isso e por outros fatores, foi engavetado e mesmo depois da morte de Marvin em 1984, seguiu sem ser lançado. Aliás aqui vale um parênteses, o músico foi baleado pelo próprio pai, o pastor Marvin Pentz Gaye Sr, com quem tinha uma relação conturbada, o que, claro, não justifica seu assassinato.

 

Berry e Marvin, duas mentes bem diferentes

 

Neste 2019, em que Marvin Gaye completaria 80 anos e 47 anos após You’re The Man ter sido gravado, o álbum finalmente saiu dos porões do esquecimento e ganhou seu lugar ao sol nas prateleiras e plataformas de streaming disponíveis na web.

You’re The Man saiu praticamente todo em sua versão original, foram somente três remixagens feitas por Salaam Remi produtor badalado que participou de projetos de artistas como The Fugees, Jurassic 5, Nelly Furtado e Amy Winehouse. My Last Chance, Symphony e I’d Give My Life For You foram as canções que levaram o toque de Salaam. Mesmo que as composições e gravações de Gaye não precisem de muitos retoques, você sabe como é o mercado da música e sua queda por cifrões…mesmo que se tenha um trabalho tão bem acabado como You’re The Man, se algo será lançado, ou relançado, por que não linkar com algum nome conhecido da indústria fonográfica para criar um gancho para alavancar vendas, likes e plays?

 

Salaam Remi

 

Por falar em faixas, o repertório de You’re The Man merece atenção especial. Com seus falsetes e swing inigualáveis Marvin Gaye refletia sobre seu país e convidava o público a fazer o mesmo com frases de impacto como “Pense nos erros que você comete / Eu acredito que a América está em jogo…”. Marvin fazia parte daquele grupo de artistas, que existem e resistem até hoje, que usam a arte como um espaço para reflexão, denúncia e debate, tudo sem deixar de lado temas presentes há centenas de anos em várias produções artísticas como o amor e as relações humanas. Estão lá, entre outras, Try It, You’ll Like It, Where Are We Going? e We Can Make It Baby, esta última uma clara alusão aos direitos da mulheres. Sim, pode até parecer que não mas Marvin Gaye, lá em 1972, queria contribuir para que as mulheres se tornassem, no vocabulário atual, mais empoderadas.

 

Marvin Gaye

 

You’re The Man é uma álbum necessário onde Marvin Gaye debate uma série de assuntos importantes para a sociedade dos EUA e do mundo e acredite, o cantor parecia prever que no futuro o mundo poderia dar largos passos para trás no que diz respeito a conquistas de uma série de direitos adquiridos ao longo das últimas décadas pelos negros, pobres, gays, mulheres e populações de países que ainda lutam para se verem livres de regimes totalitários  e opressores.

 

Um cara reflexivo

 

Se você ainda não ouviu You’re The Man taí uma boa oportunidade de conhecer o lado engajado e ativista de Marvin Gaye, além de conferir um álbum que traz uma produção impecável e um artista que, como já falamos, estava no auge da sua produção artística. You’re The Man está disponível em diversas plataformas digitais para audição e você pode também navegar na página do artista no Facebook, fomentada pela Classic Motown, e que traz músicas, fotos e vídeos de Marvin.

Até a próxima! 😀

 

 

 

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