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No novo álbum de Elza Soares Deus é Mulher – Podcast
São 81 anos, décadas dedicadas a música, vários prêmios, considerada pela BBC a cantora brasileira do milênio, diversas parcerias, além de uma vida cheia de altos e baixos e de vários recomeços, todos vitoriosos. Elza Soares poderia – se quisesse – levar uma vida mais tranquila, sem o agito do showbizz ou, até, não se preocupar tanto com a realidade dura do Brasil atual. Mas tudo isso não combina com sua personalidade inquieta, com sua antena criativa sempre girando em 360 graus e com seu desejo constante de denunciar e alertar, através da sua arte, o preconceito, a exclusão e o tratamento cruel que negros, mulheres, gays e todas as minorias recebem em nossa sociedade.
Elza é a cara e a voz do nosso país e ela tem total propriedade para cantar, com doses generosas de força e poesia, sobre os temas que algumas vezes são jogados para debaixo do tapete. Prova disso é o lançamento do álbum Deus É Mulher, trabalho repleto de inéditas e que surge como uma espécie de continuação para Mulher do Fim do Mundo, disco lançado em 2015 e que trazia um discurso que passava por temas como a violência doméstica, o desejo, a difícil realidade das periferias, a vida de uma transexual no submundo das drogas e do crime, a urgência que permeia as relações nos dias de hoje e a vontade de Elza de cantar até o fim.
Em Deus é Mulher, Elza Soares continua sua parceria com o instrumentista e produtor Guilherme Kastrup e ao seu lado selecionou, em meio a 60 faixas, as 11 que estariam no repertório do álbum. As composições presentes no disco passeiam por assuntos importantes para os dias atuais. Em Exu nas Escolas a defesa do ensino da cultura afro-brasileira nas escolas, além de denunciar o esquema de fraudes nas merendas escolares. Em Credo um discurso coerente sobre a intolerância religiosa. Em Deus Há de Ser a moça nos faz refletir: afinal em meio a tantas atribulações sociais só mesmo um Deus que seja mulher e mãe para nos fortalecer nessa caminhada. Ou seja um repertório onde Elza não se cala, nem baixa a guarda para nenhum tipo de discurso que esteja imbuído de ódio e preconceito, pelo contrário – como em tudo em sua vida – encara de frente e solta verbo com a propriedade de quem já viveu todo o tipo de preconceito.
Em seu novo disco, mais uma vez, Elza se cerca do que há de mais conteporâneo na MPB. Seu olhar focado no futuro sempre a tira da zona de conforto e é aí que está a grande sacada da cantora. Além de estar atenta a cada detalhe do momento atual, ela está super ligada na arte que sai desta sociedade do século XXI, no que tem a dizer essa geração tão conectada mas ainda refém de uma série de preconceitos e situações de exclusão e violência que invadem seu cotidiano.
E como Deus é Mulher várias destas parcerias trazem mulheres fortes e talentosas que fortalecem a proposta de Elza para este trabalho. Na banda a presença da percussionista Mariá Portugal, a clarinetista Maria Beraldo e o grupo Ilí Obá de Min. Já nas composições a contribuição de Tulipa Ruiz, responsável pela letra de Banho, e a presença de Alice Coutinho. Além destas moças super poderosas estam ali Pedro Luis, Romulo Fróes, Kiko Dinucci, Marcelo Cabral e Douglas Germano.
Com este novo trabalho Elza Soares se mantém firme no posto de uma das cantoras mais modernas e engajadas da MPB neste final da segunda década do século XXI. Corajosa, ela entrega de bandeja para o público um retrato fiel da nossa sociedade atual, propõe reflexões profundas e nos ajuda a encontrar um caminho que nos tire de uma fase envolta em discursos de ódio e intolerância. Deus é Mulher é um álbum necessário para os tempos atuais. Vale à pena uma audição cuidadosa de cada faixa. O novo disco de Elza está disponível em diversas plataformas digitais e para você acompanhar de perto as novidades da cantora é só acessar facebook.com/elzasoaresoficial.
Até a próxima! 😀